Adoção de negócios eletrónicos pelas PME portuguesas – Entrevista a Denise Haller

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Adoção de negócios eletrónicos pelas PME portuguesas – Entrevista a Denise Haller

 

No âmbito da tese de doutoramento em Marketing e Estratégia, na Universidade de Aveiro, Denise Haller está a investigar a adoção de negócios eletrónicos (ebusiness) nas PMEs portuguesas.

Para isso, "o objetivo passa por criar e validar cientificamente um novo instrumento para medição da perceção de diretores de pequenas e médias empresas (PMEs) acerca do papel do suporte de terceiros no contexto da digitalização dos seus negócios", explica Denise Haller em entrevista ao Comércio Digital

 

Porquê que escolheu este tema de estudo e como chegou até à sua questão de investigação?

O primeiro aspeto considerado na formulação do problema de investigação teve a ver com a ênfase dada à adoção de inovações tecnológicas baseadas na Internet, e o crescimento de negócios eletrónicos e-business em várias geografias, na altura relativamente modesto em Portugal, apesar de grau de penetração da Internet algo expressivo. Iniciei a investigação muito antes da pandemia, quando em Portugal apenas 40% das empresas tinham uma presença online, quando o fenómeno dos negócios na Internet tinha popularidade uma global, e já era conhecido o seu impacto direto em vários setores da economia de diversos países do mundo. Na Europa, o comércio eletrónico representava uma parte significativa das vendas das empresas, o que colocava a Internet como um importante driver de crescimento, e ao mesmo tempo uma oportunidade de internacionalização para pequenas e médias empresas de países pequenos como Portugal.  Observando o enorme potencial de alargamento de empresas nacionais, que podiam conduzir negócios eletronicamente, uma das questões de partida colocadas no estudo, procurou compreender a razão pela qual, as taxas de adoção de negócios eletrónicos no nosso país eram reduzidas, e que fatores estariam a limitar a adoção de tecnologias baseadas na Internet.

 

Como é que surgiu a ideia de criar um novo parâmetro de medição e inquérito para esta matéria?

A revisão de literatura feita ao longo do tempo permitiu situar o ebusiness, como uma inovação complexa, e identificar alguns condicionalismos, uma vez que a implementação de um modelo de negócio eletrónico, à partida requer um certo nível de know-how tecnológico e de perícia que as empresas têm de integrar. Isto significaria esperar delas uma enorme capacidade de aprendizagem para conseguirem gerir rapidamente a transição para processos de inovação tecnológica, tendo a necessidade de alocar eficientemente os seus recursos, atualizar sistemas, lidar com as complexidades tecnológicas, gerir relacionamentos com parceiros e clientes, etc. Por outro lado, havia igualmente limitações de entrada de PMEs na economia digital, pelo facto de elas não terem conhecimento sobre os novos modelos (i.e., business), além de que dificilmente disporiam de recursos humanos qualificados para o digital, e de recursos financeiros adequados. Quanto às empresas ainda mais pequenas, não teriam internamente, as competências estratégicas, de gestão, e marketing necessárias, e isso desde logo limitaria de uma forma significativa, qualquer tentativa de adoção de uma inovação tecnológica.

 

Perante estas considerações foquei em abordagens de parceria que implicassem a intervenção de agentes de mudança, tendo particular interesse em mecanismos de suporte de entidades externas, que interviessem como facilitadores de processos de adoção do e-business por pequenas e médias empresas, partindo do pressuposto de que estes agentes poderiam influenciar favoravelmente a adoção de novas tecnologias da informação e comunicação. Se considerarmos que a implementação de um negócio eletrónico compreende várias etapas de transformação ao longo do tempo, desde a fase inicial até à rotinização da atividade, então teremos de reconhecer que muitas empresas possam falhar, ou interromper o processo, mesmo depois de terem incorporado algum grau de inovação nos seus processos e sistemas, por não disporem de conhecimentos suficientes para implementar uma tecnologia, sem terem um apoio técnico contínuo, ao longo de todo o processo de assimilação.

 

Deste modo, com esta investigação procurei avaliar até que ponto, uma PME adotaria mais facilmente uma inovação tecnológica, caso fosse apoiada por agentes externos, nas várias fases do processo de assimilação, e para conseguir contornar os vários condicionalismos e barreiras que normalmente se colocam na implementação.

 

Alicerçada em evidências empíricas relatadas por outras investigações que fundamentam modelos e fatores determinantes da adoção do e-business vi-me, no entanto, confrontada com a inexistência de estudos que especificassem mecanismos de suportes de terceiros (agentes externos), na adoção por PMEs.  Nesse sentido, não havendo escalas de medida que permitissem operacionalizar este novo construto foi necessário desenvolver e validar um instrumento de medida, no âmbito da minha tese de doutoramento.

 

O desenho do estudo definiu uma metodologia quantitativa, sendo que no processo investigacional partimos da especificação de um modelo teórico que constituiu a base de desenvolvimento e validação da escala, e que permitirá ainda testar as hipóteses formuladas, para estudar o fenómeno em causa. As principais estratégias de medição definidas metodologicamente contemplam três grandes tipos de validação de um instrumento de medida para averiguar, nomeadamente, a Validade de Conteúdo, Fiabilidade, e Validade do Construto, o que tem sido feito em várias etapas. Em termos do plano de investigação, os dois primeiros tipos de validação já foram realizados com sucesso, bem como foi possível comprovar a confiabilidade do novo instrumento. Neste momento propomo-nos implementar a escala (questionário) final.

 

De que forma é que os gestores e diretores de PMEs podem aceder e responder ao seu trabalho?

Bem, o trabalho está em curso, e foi criado um link de acesso ao inquérito que partilhei com a vossa Associação. Este é bastante acessível e poderá ser preenchido totalmente online, por conseguinte gostaria de aproveitar esta grande oportunidade para fazer um apelo aos responsáveis de PMEs, pedir-lhes que colaborem no estudo. Nunca será demais lembrar quão fundamental será o seu contributo, na investigação de um fenómeno que diz respeito a todas a empresas de pequena e média dimensão, já que estão a consideradas neste inquérito várias dimensões de suporte relevantes, que poderão ter interesse em analisar, em contextos de adoção de negócios eletrónicos. Não há forma de conseguirmos averiguar os tipos de ajuda que eles valorizam, se não participarem.

 

Qual é a importância de obter respostas para a sua tese de doutoramento e investigação científica?

Em primeiro lugar, como investigadora e tendo o intuito de desenvolver um instrumento psicométrico de raiz, para averiguar um fenómeno social novo, procurei desde o início fazê-lo com o maior rigor possível, de acordo a metodologia científica indicada, por forma a que, o instrumento final possa aportar garantias de confiabilidade e fiabilidade, qualidades que são indispensáveis na validação de uma escala de medida. Em segundo lugar seria muito mais difícil esclarecer convenientemente o tema da adoção do e-business, sem uma amostra ampla e representativa de PMES, por último, e não menos importante, para realizar um estudo com esta relevância será imprescindível recolher a opinião dos empresários que fazem parte do nosso tecido empresarial, porque melhor do que ninguém eles conhecem o seu negócio estão cientes das dificuldades que as empresas estão a  atravessar num momento tão transformativo da nossa sociedade, e certamente saberão que existem enormes desafios a serem superados nos próximos anos.

 

Embora atualmente, 60% das empresas já tenham uma presença online, do meu ponto de vista continua a ser importante compreender até que ponto as PMEs precisam de ser ajudadas, e em que aspetos, na transição para o digital. Compreender-se-á que, apesar de se reconhecer uma certa vitalidade em alguns setores da nossa economia, nem todas as empresas terão a capacidade de internamente fazerem a integração de novas tecnologias, com o grau de inovação que estas apresentam, se não forem ajudadas.

 

Gostaria de apelar à participação do seu público-alvo definido?

Sim, bastante. Noto que precisamos todos deste tipo de Conhecimento, e isso só poderá enriquecer-nos coletivamente enquanto agentes de mudança. A minha convicção mais modesta é que possamos construir e partilhar com todos uma espécie de ferramenta de análise, quanto mais não seja para ajudar os diretores de pequenos negócios a fazerem uma reflexão mais ampla sobre potenciais facetas de suporte, que eventualmente questionariam, no desenvolvimento de negócios eletrónicos,  incluindo a perspetiva estratégica e de marketing digital.

 

Qual é a relevância da sua pesquisa para o nosso país?

Isso é algo que veremos no futuro, mas se me perguntarem, o que eu gostaria que acontecesse no final da investigação diria que ficaria satisfeita, se esta tiver utilidade para os dirigentes de PMEs, no sentido em que os resultados permitam aferir um conjunto de aspetos que sejam críticos para eles, em processos que impliquem a incorporação de uma inovação. Espero ainda que estudo possa de alguma maneira evidenciar, a diversidade de empresas que temos em Portugal, nessas matérias.

 

 O que falta fazer em Portugal, a este nível?

Não sei se serei a pessoa mais indicada para responder a essa questão. Ainda assim, na minha opinião haverá ainda muito por fazer, sobretudo se estivermos cientes da realidade que temos em Portugal, sabendo que estamos num país fortemente caraterizado por empresas de pequena dimensão. Isso certamente colocará desafios crescentes quanto mais rápidas e disruptivas forem as tecnologias. Efetivamente, a ACEPI tem sido pioneira ao longo dos últimos anos, na capacitação de empresas para o digital, um trabalho que merece todo o mérito, todavia acredito que essa tarefa ainda esteja longe de terminar, pois nesse aspeto, as empresas mais pequenas que apresentem maior dificuldades em lidar com aquilo que é novo terão de ser fortemente apoiadas, a nível de aquisição de competências digitais. Isso levará tempo e paciência.

 

A que conclusões espera chegar? Acredita que se vai surpreender com os dados recolhidos e a sua amostra? Se sim, de que maneira?

Quero acreditar que este estudo dar-nos-á a possibilidade de tirar um conjunto de ilações sobre a diversidade das nossas PMEs, no que concerne a estádios de adoção de negócios eletrónicos. Provavelmente, os resultados que conseguirmos obter irão espelhar um bocadinho, as diferentes realidades e velocidades em que as empresas desenvolvem a sua atividade, a visão que os seus responsáveis têm sobre este assunto, aspetos que devem ser diferentes de setor para setor.   Quem sabe essa diversidade nos ensine alguma coisa.

 

Onde vai estar disponível a informação pós-estudo?

O objetivo de uma investigação científica, seja qual for a área for é torná-la um bem comum, no sentido em que nosso trabalho trata de produzir Conhecimento, que ajude a compreender os mais diversos fenómenos que afetam a sociedade. Nesse sentido, enquanto investigadores precisamos de ter condições para realizar estudos académicos, o que na maioria das vezes implica a necessidade de recolha de dados. No final desse percurso, se formos bem-sucedidos, o que esperamos é que os resultados possam ser divulgados publicamente, e tenham utilidade para todos os interessados.

 

Contou e conta com o apoio de várias organizações, como a própria Universidade de Aveiro e a ACEPI, entre outras. Este fator é fundamental para o avanço do seu projeto? Qual é o peso que estas sinergias e parcerias têm, de facto, na evolução da sua demanda?

Vivemos numa era altamente colaborativa. Nenhuma pessoa consegue fazer sozinha melhor, do que a soma de todas as partes. É essa a lógica das sinergias. Nesse aspeto, sem sombra de dúvidas tem sido muito importante para mim ser apoiada por Associações empresariais que representam indústrias importantes que são motores de desenvolvimento do país, sobretudo porque conhecem melhor o nosso tecido empresarial. Estou extremamente grata pela solidariedade e interesse que têm manifestado, e por todo o apoio que continuo a receber, o que tem facilitado o meu trabalho de investigação.

 

Quais são as suas perspetivas académicas e profissionais para o futuro?

 Neste momento, estou totalmente focada neste projeto académico, por forma a conseguir levá-lo a bom porto. Idealmente gostaria de conseguir terminá-lo com sucesso daqui a algum tempo, sabendo obviamente que não controlo todas as variáveis, pois preciso efetivamente que outras pessoas participem no estudo que está a decorrer, também com a vossa colaboração, mas o objetivo está traçado. De resto, o facto de ser profissional de Marketing, e ter escolhido investigar um domínio ligado a Sistemas de Informação e adoção de inovações tecnológicas, faz de mim alguém com interesses muito particulares nessas matérias e, por conseguinte, profissionalmente falando gostaria de continuar a minha atuação em áreas estratégicas e de implementação de negócios eletrónicos.

 

INQUÉRITO AOS RESPONSÁVEIS DE PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS DISPONÍVEL AQUI.

 

11.01.2022

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O Comércio Digital é um programa da ACEPI, cofinanciado pelo Compete 2020, Portugal 2020 e EU-FEDER, dirigido às micro, pequenas e médias empresas portuguesas, do setor do comércio e dos serviços de proximidade.

 

 

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